
Gozemos à Vida.
Gozemos a vida, fazendo amor,
desprezando o falatório dos velhos puritanos.
A luz do sol pode morrer e renascer
mas a nós, quando de vez se nos apaga a breve luz da vida,
resta-nos dormir toda uma noite sem fim.
Beija-me mil vezes, mais cem;
outras mil, outras cem.
Depois, quando tivermos ajuntado muitos milhares,
vamos baralhá-los, perdendo-lhes a conta,
para que nenhum invejoso, incapaz de contar beijos tantos,
possa mau-olhado nos lançar.
Catulo
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Caio Valério Catulo (84 a.C.-54 a.C.) foi um sofisticado e controverso poeta veronense que viveu em Roma , durante o final do período republicano.
Catulo se liga a um círculo de poetas de ideais estéticos comuns, os quais, Cícero chama de poetas novos (modernos), termo este, carregado de sentido pejorativo. Esse grupo de poetas rompia com o passado literário romano (mitológico), passando, entre outras características, a utilizar uma temática considerada “menor” pelos seus críticos.
Acrescenta-se às características da poesia de Catulo, a linguagem coloquial (Ex. Ineptire, no canto VIII), a simulação freqüente de improviso na sintaxe (frases interrompidas por orações paratéticas, repetição de palavras e expressões, movimento circular da elocução), versos ligeiros e a simulação do acesso aos recantos mais íntimos do homem.
Sua obra se perpetuou através dos séculos que se seguiram, foi exemplo para grandes nomes que vieram depois como Propércio e Tibulo. Também foi muito lido por poetas como T. S. Eliot e Charles Baudelaire.