terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

10 comentários:


  1. Simplesmente... beleza.

    Obrigado pr compartilhar esta pensamento...

    Bjs

    Jacques.

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  2. Belo poema
    é também uma canção?
    Onde estás?
    É lindo esse lugar.
    Parabéns!

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  3. O Oswaldo Montenegro que me perdoe. Para mim é assim:

    Já não tenho medo de nada

    Nada há já por que anseio



    Morreu quase tudo o que acreditei

    Mas não me tapem os ouvidos e a boca

    Porque continuo cá

    Nada silencioso



    Música triste ao longe não dá

    Como não dá a que sinto aqui perto

    Amor ausente também não

    Saudade não compensa desejo



    Não falo já, nem em prece nem com fervor

    Não preciso de respeito

    Pouco sinto o que ouço

    Só sinto tudo o que calo



    Mas não tenho vontade de me ir embora

    Quero calma e paz, não sei se mereço, porém

    Não há recompensa para a tensão que me corrói

    Tudo é um vulcão sem nada que o apague



    Mas não há solidão, dou-me bem comigo



    Com o que fui na infância, quando sorria

    Mais tarde, quando chorei ou sofri

    Sei bem o que fui

    Aceito, melhor não ser diferente



    Mas não, não há silêncios que me dêem alegria

    Não sou abrigo nem me canso á espera disso



    Curioso pensar que há duas metades para o amor

    Qual é a minha?

    Onde está a outra?

    A.Marques Lopes.

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  4. Bela a tua escolha deste Poema de Osvaldo Montenegro. Nem sempre "cria" a harmonia e ou o entendimento de quem o lê.
    Parabéns, Amiga.


    Beijos
    Santos Oliveira

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  5. O tempo é tudo que temos, aqui reparo que esse tempo já foi. Faço votos para que desfrute do outro tempo que divide na vida.
    Bj

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  6. Para te dar aqui um impulso só preciso dizer-te para publicares aqui algumas fotos das tuas férias, deves ter mais que um motivo já que adoras este País.
    Aguardo pelo teu regresso com mais tópicos.
    Bj

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  7. Navegando por entre atalhos, cheguei aqui ao seu blog, para lhe dizer que adorei esta sua publicação.
    Um abraço cá do Algarve
    http://umraiodeluzefezseluz.blogspot.com

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    1. Obrigada sempre meu amigo Tomanel.Teu Blog e sempre muito lindo.

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Agradeço a todos pelos comentários sejam sempre bem vindos ao meu Blog....